sábado, 15 de março de 2008

Energia do futuro

Com a escalada de preços do Petróleo a questão energética ganhou um novo realce. A questão é antiga e por enquanto nem é tão grave como parece, queiram os governos agir adequadamente e queiram as populações apoiar mudanças em vez de optarem por bloquear as soluções.
Antes de mais e sobre o preço do petróleo, em preços reais este está sensivelmente ao preço de 1980. Era um preço alto mas ninguém morreu por causa disso. A questão é simples e cruza-se com factores económicos e estratégicos. Os EUA quase sempre desincentivaram a produção de alternativas ao petróleo devido aos interesses e lobys das grandes empresas petrolíferas americanas. A economia do petróleo assentava em transacções cotadas em dólares.
Com actual situação da economia americana o dólar vem perdendo valor e provocando grande inflação nos países produtores de petróleo que consequentemente pressionam a alta dos preços para corrigir o fluxo real do valor de troca no comércio internacional. Nada de mais. Significa que o petróleo sobe em grande parte para corrigir a inflação dos países produtores de petróleo.
Mas hoje, os EUA não são já a economia dominante. Temos de ver a economia mundial como a partilha das decisões de grandes blocos em que os EUA são muito importantes mas temos de ter em conta que a Europa hoje é mais do que um conjunto de pequenos países, uma vez que apresenta políticas coordenadas no comércio internacional.
Por outro lado a Rússia, a China, o Japão e a Índia têm uma influência fundamental nestas questões uma vez que são grandes economias em crescimento rápido.
Assim, temos de que perceber que este ano começou com moderação porque os dois primeiros dois meses do ano revelam normalmente excedentes de stocks e até o mercado regularizar com as aquisições dos especuladores há uma tendência para a baixa de preço. Agora retomaremos a subida habitual, só contrariada por uma crise muito elevada.
A Europa, com um EURO forte tem pago a factura do preço do petróleo não directamente mas essencialmente num plano indirecto pois os seus produtos exportáveis ficam mais caros (menos competitivos) e os produtos dos países externos abrem caminho a baixos preços nos nossos mercados discutindo taco a taco posições de mercado nas prateleiras dos supermercados e do comércio.
As soluções são muito bem conhecidas. Investir na energia nuclear de 4ª geração, que controla os resíduos perigosos a quase nada (uma central com capacidade para abastecer Portugal produz um quilo de resíduos perigosos por ano)o que permite uma solução integrada simples parece ser a solução mais efectiva e mais amiga do ambiente, até porque permite outras mudanças tecnológicas. Por exemplo os carros eléctricos ou híbridos com carga eléctrica podem abastece-se aproveitando em grande parte os períodos de menor consumo.
Claro que a solução global não é apenas nuclear. Será um mix de soluções adequadas a cada local, aproveitando as capacidades de cada lugar incluindo o seu clima e recursos.
As empresas eléctricas têm de mudar os seus comportamentos, tal como as sociedades reguladoras, pois os preços têm que reflectir a pressão sobre o sistema e a energia tem que influenciar mesmo as horas de consumo pelo factor preço. Consumir electricidade à noite tem que ser mesmo muito barato e nas horas de posta muito caro.
Por outro lado o comportamento humano tende sempre a fugir ao razoável e ter um comportamento assente no interesse momentâneo pelo que se prevê que a existência de uma grande frota eléctrica ou híbrida com recarga eléctrica das baterias produzirá um aumento de consumo eléctrico que pode ir até 40% na ponta o que significa que o problema da produção estável de um nível de potencia versus um consumo oscilante não é fácil de gerir. Mas isto também tem solução pois existem muitos sistemas ambientais que podem beneficiar desta situação como os sistemas de tratamento de águas residuais ou de dessalinização de água para consumo, ou ainda, no caso dos Açores da transferência de água oxigenada para as lagoas aumentando o caudal das respectivas descargas durante o dia que resolveria o problema da eutrofização.
Enfim, prevê-se uma longa discussão mas creio que até a energia dos resíduos acabará por ser naturalmente aceite, tal como todas os outras que são preferíveis ao uso intensivo de CO2.
O comportamento humano reage negativamente à mudança e a tudo o que é diferente. Tem medo. Quando assim é surgem sempre aqueles que se tornam conhecidos por meter medo. São os mais modernos terroristas. Nada a fazer. O mundo continuará a sua marcha uma vezes mais depressa outras mais devagar. No fim tudo se resolverá. Mas é necessário olhar para as empresas energéticas e exigir-lhes que mudem activamente e não se habituem à posição confortável habitual. O mundo mudou e as empresas por maiores que sejam ou mudam ou morrem.

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