terça-feira, 27 de abril de 2010

Salários desconfortáveis

Muito se tem falado sobre salários.
Num momento de grande dificuldade para muitas pessoas chocam as notícias de salários principescos. Será que estes salários nos devem chocar?
Na minha opinião depende muito do que estamos a falar.
Sempre terá de haver salários baixos e salários altos. Mostram uma diferença entre a banalidade e a escassez de capacidades. Mostram ainda a responsabilidade que é assumida no desempenho da profissão.
O problema é quando os salários são tão altos que não se encontra qualquer justificação para isso. O efeito de escassez não se verifica quando se percebe que o que é desenvolvido em determinada empresa seria na mesma se outro fosse o gestor.
Principalmente em empresas que gozam de condições de domínio de mercado ser francamente bom gestor é algo que exige revolucionar e não apenas manter o business as usual.
O argumento de comparar os salários com outras empresas do sector não tem sentido. Estamos em Portugal e o gestor de substituição terá um salário português. Mesmo o argumento que a empresa é privada não é muito válido porque se perguntarem aos pequenos accionistas que representam a maioria do capital destas empresas verão que não estão de acordo com o pagamento de salários gigantescos e desproporcionais.
O que há é um grupo de pessoas que se defendem muito bem e decidiram que deviam receber milionáriamente. Esse grupo actua de forma concertada, promovendo as representações cruzadas necessárias a manter a situação.
Este ambiente é socialmente corrosivo e impede o país de tomar as medidas que são necessárias pois o choque social trará um clima de instabilidade insustentável.
São necessárias medidas urgentes para corrigir esta situação.
Dêem poder aos pequenos accionistas e portem-se bem nas assembleias gerais das empresas públicas.
Já agora quem achar que ganha mal em Portugal pode sempre emigrar. Tenho muita curiosidade de ver o que acontecia a tão insubstituiveis criaturas.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Valor Acrescentado Regional - RAA

As estatísticas dão-nos por vezes uma boa fotografia do que tem sido a transformação da economia açoriana. Algumas alterações são notáveis o que não quer dizer que sejam boas ou más. Vejamos algumas alterações notáveis do PIB dos Açores entre 2004 e 2008:
- A agricultura reduziu o seu valor em 22%
- A produção e distribuição de electricidade, gás e água aumentaram 56%
- O comércio aumentou 20%
- A educação aumentou 30%
- A saúde e acção social aumentaram 20%
Em boa verdade os sectores relacionados com o Estado ou com a produção de serviços públicos aumentaram vigorosamente e a agricultura reduziu-se fortemente.
Os restantes sectores mantiveram crescimentos médios à volta dos 15% que é um aumento mínimo se atendermos à evolução dos preços.
Repare-se que a indústria transformadora (que é basicamente agro-alimentar) tem um aumento de 15%, o que significa que consegue pressionar a agricultura para manter a competitividade no mercado, mantendo os seus números.
O resultado é que a estrutura do VAB em 2008 mostra uma maior dependência do Estado do que em 2004. Os aumentos excepcionais da Educação são disso um exemplo.
Parece-me que a análise da economia como um todo devia começar a ser repensada. Seria muito tranquilizador ver a agricultura e a indústria a aumentar 30% e os sectores dependentes do Estado a manter os seus valores.
É muito necessário implantar uma nova agricultura, moderna e geradora de valor acrescentado elevado, que incentive empresários e trabalhadores qualificados ou muito qualificados a permanecer no sector.
Basta ir a uma superfície comercial maior para se verificar que a incapacidade dos agricultores terem produtos locais nas prateleiras é imensa e está só garantida no leite UHT porque de resto até as alfaces têm forte concorrência.
Já agora o Valor Acrescentado soma os rendimentos do trabalho, do capital e impostos gerados em cada sector.

sábado, 3 de abril de 2010

Pedimos perdão

Pedir perdão é uma atitude muito cristã. É um pedido que se faz para redimir um pecado. A Igreja tem mostrado uma face de terrível desajuste dos tempos em que vivemos. Tem reagido mal a denuncias de abusos, com declarações de eminentes figuras da Igreja que mais parece que não estão no seu perfeito juízo.
Pedir perdão pelos pecados cometidos não é coisa que se faça quando se pratica um crime. Ou seja, até se pode pedir perdão e Deus pode perdoar, mas os crimes são julgados pela justiça dos homens, como é evidente.
O que se pretendia ouvir da Igreja era outro discurso. Por exemplo, pedir perdão mas dar instruções para não ocultar com mudanças de paróquia e estratagemas do género os crimes de abuso cometidos por padres.
Claro que não se pode perdoar a uma instituição que convive com o crime e oculta provas à justiça.
A autoridade da Igreja está muito abalada porque hoje se sabe que a instituição tem um comportamento que não é aceitável e só não foi ainda fortemente punida porque ainda goza de um respeito muito grande. Ninguém quer ser contra a Igreja. Espero que a Igreja deixe de ser contra nós.