sexta-feira, 28 de maio de 2010

A Dívida Pública e a Dívida Externa

Esta a ler um documento e verifiquei que por vezes se confundem dois problemas distintos.
A dívida externa refere-se a activos do exterior e em termos líquidos seriam perto de 98% do PIB (de memória) em 2008. Por exemplo a Grécia teria apenas 75, bem como a Espanha e a Itália teria 25%.
Já a Divida Pública seria em 2009 77% do PIB em Portugal, 53% na Espanha, 115% na Grécia e 116% na Itália.
Estas diferenças são muito importantes.
Com uma dívida externa grande estamos em risco de bancos de outros países não nos emprestarem dinheiro. Mas não é só ao Governo. É também aos bancos e por consequencia às empresas e aos cidadãos. Por isso todos têm que reduzir as suas dívidas. Conhecido popularmente por apertar o cinto.
Já a Dívida Pública é um problema mais fácil de resolver pois basta o Estado deixar de gastar que o problema se resolve. Como o Estado se endivida consumindo poupanças internas e externas o efeito da sua redução é muito grande na resolução dos dois problemas.
É por isso que o mais essencial é que o Governo mude de vida.

O Mundo Mudou

Tem sido muito comentada a mudança do mundo. Para uns, acabou de mudar nas últimas semanas, para outros, nada mudou e são tudo desculpas para justificar percalços.
Mas há quem pense que este século mudou muito a economia, uma mudança sistemática ao longo dos anos, infelizmente não foi para melhor.
Vejamos os argumentos dos que, como eu, pensam que o mundo tem vindo a mudar.
O comercio internacional e as finanças globalizaram-se sem preconceitos. Os países que no século eram comunistas e fechados são hoje os maiores operadores especulativos com fundos soberanos.
O envelope financeiro mundial, incluindo activos reais tradicionais e instrumentos financeiros novos é de 15 vezes o PIB mundial.
Entre 1980 e 2007 os activos tradicionais (acções, depósitos e obrigações) aumentaram 9 vezes, passando de 1,2 para 4,4 vezes o PIB mundial.
O mercado de derivados over-the- couter aumentou 7,5 vezes nos últimos 10 anos, ou seja, passou de 2,4 para 11 vezes o PIB mundial.
Enquanto o capital financeiro real valia, em 2007, 241 biliões de dólares o capital virtual valia 683 biliões de dólares.
Estes números podem ser vistos com mais pormenor na revista Exame de Maio de 2010.
Quando a economia muda desta forma, os modelos de serviam para tomada de decisão ficam obsoletos.
Uma nova análise económica tem que surgir, incorporando meios analíticos e um corpo teórico adequado.
O que se tem feito é atirar as culpas para o adversário e defender as soluções que dão mais benefício ao respectivo lobby.
O problema é que este caminho não conduz a uma solução.
Muita economia real está hoje na posse de fundos soberanos de países com um interesse estratégico diverso doo nosso.
O crescimento da economia financeira, que aposta na eterna ambição do homem, está a pôr em risco o nosso futuro.
Não podemos mudar o mundo mas podemos reduzir a nossa exposição a esses riscos, antes que percamos a nossa independência nacional.
Não é o que temos feito.
A nossa dívida externa era em 2000 de 38% do PIB e em 2008 tinha crescido para 97% do PIB.
Com este aumento a nossa fragilidade a qualquer perturbação tornou-se evidente.
Quem opera na espuma da economia, em negócios como as vendas over the couter (sem cobertura)sabe que os mercados fragilizados podem permitir operações com grandes lucros.
Vender hoje activos que não se possuem para entrega numa data futura, aumentar com isto a liquidez do mercado e pressionar o preço em baixa, comprar mais barato no dia antes da data acordada para a entrega do activo e ganhar a diferença é um negócio interessante mas que tem um efeito demolidor sobre as bolsas e sobre o valor das moedas. Isto sim é economia de casino e devia ser proibida pois não contribui para o bem estar das populações.
O truque para evitar isto tudo é não dever.
Claro que podíamos ser nós a fazer a reforma constitucional e posteriormente na educação e na saúde onde são alocados grande parte dos recursos nacionais.
Mas pelos vistos vamos ter de fazê-la aos empurrões sem qualquer delicadeza porque somos incapazes de mudar enquanto ainda temos alguma riqueza.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O Ilustre caso da boa professora

Todos dizem que a professora era exemplar e que todos gostavam dela. Posou para uma revista masculina famosa, não uma qualquer, e foi alvo de um processo de afastamento para uma zona escura e longe das pobres criancinhas.
Pena que esta pena de afastamento da boa professora nunca seja notícia pela aplicação a maus professores, a professores desequilibrados, daqueles que diariamente prejudicam as criancinhas.
Estranho critério este.

As inúteis discussões sobre economia

Muitas opiniões se têm ouvido sobre economia.
De facto perdeu-se o hábito de falar de política.
O que está em causa não é um problema económico mas antes um problema político.
O que está em causa é como a esperança de vida deve ser repartida entre preparação, vida activa e reforma.
Quem e como se financiam as reformas.
Não interessa saber se o défice é 3 ou 5% do PIB mas quem paga as dívidas. Qual o desfasamento entre gerações é aceitável e qual não é.
E se a divida deve ser reduzida o melhor é começar a discutir qual a parte da saúde e da educação é mais adequado serem os respectivos utilizadores a pagar.
Do ponto de vista económico uma economia é tanto mais saudável quanto menores forem os recursos subtraídos pelo Estado, pois assim mais recursos podem ser encaminhados para investimento sem ter de recorrer a capital externo que vai ter de ser pago com exportações de bens ou serviços.
Recorrer a capitais externos é a forma mais rápida de perder primeiro competitividade e depois a autonomia enquanto país.
É de autonomia nacional que se está a falar e não do IVA ou do salário do ministro. Isso são assuntos menores, embora por vezes incomodem.
Os economistas têm vindo a dizer à décadas que os desequilíbrios externos são preocupantes. De que serve se logo se arranja um economista pago por alguém para dizer que o caminho é o Estado gastar o que não tem porque isso vai ser uma solução óptima. E, claro que esse alguém tem uma empresa que produz aquilo que é, curiosamente, o que melhor é para o Estado gastar, ou investir como é corrente chamar a quem gasta dinheiro em coisas sem qualquer retorno.
Venham políticos de outra geração e resolvam isto com transparência e sem medos. Por favor.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A LUZ de Fátima

A viagem do Santo Padre a Portugal foi muito benéfica para todos.
Logo no avião vislumbrou-se um papa iluminado, com um discurso sábio e adequado ao momento.
Foram feitas afirmações muito sérias sobre a Igreja e sobre o mundo que mostram que a Igreja acertou o passo e depois de uns meses a dizer tolices sobressaiu a sabedoria de uma instituição bi-milenar e de um Papa capaz de fazer uma leitura adequada que traduz as posições de uma Igreja moderna e capaz de desempenhar um papel decisivo neste século XXI.
Fico muito feliz por ver essa capacidade porque me parece que as mensagens que densificam a ética e as opções sociais e políticas são absolutamente necessárias nesta época em que decisões catastróficas são tomadas com muita velocidade e sem recorrer a nenhuma sabedoria.
É esta Igreja actual e actuante que nos faz falta e Portugal está mais uma vez no centro desta reorientação.
Só espero que a comunicação tenha a presença de espírito de nos revelar a mensagem profunda, mas suspeito que mais uma vez se vai ficar pelo nível da espuma.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Grécia - a lição

Durante este fim de semana os ministros das finanças da Zona Euro e o FMI concordaram em fazer um financiamento de 110 mil milhões à Grécia em troco da garantia de implementação de um Plano ambicioso (forma agradável de se dizer muito duro)de regresso a um défice máximo de 3%.
Este plano inclui medidas como a supressão do 13º e 14º mês de salários na função pública e um aumento de 1% do IVA para 22%.
Estas sim são medidas com muito impacto pois significam a redução de 14% da despesa com salários e, simultãneamente um aumento da receita.
Espero que comecemos a levar a sério o nosso PEC pois se ele não resultar acabará por nos acontecer o mesmo.
Aqui os sindicatos vão mesmo ter de entender que se querem fazer bem aos seus representados não devem levar o país a uma situação destas.

sábado, 1 de maio de 2010

Expectativas elevadas

Durante algum tempo fui escrevendo sobre a necessidade de ter algum cuidado com as dividas. Este assunto virou de repente no único assunto, pois alguém o sistema financeiro começou a ameaçar desinteressar-se de emprestar mais dinheiro porque o risco é muito elevado para alguns países.
Coisa engraçada esta. Ainda não passaram muitos meses que os bancos foram salvos pelos Estados e agora viram-se contra eles. Há casos de bancos que gozam de empréstimos de fundos a baixo preço e agora emprestam aos países a preço anormalmente elevado criando lucros elevados.
As notações que as empresas dão aos países são agora muito cautelosas para um pequeno conjunto de países para dar a ideia que os problemas do passado foram corrigidos.
Penso que é a altura de regular o sistema de avaliação de risco e de criar condições para o surgimento de um novo clima menos tóxico na relação entre financiadores e financiados.
Quanto aos Estados vamos passar por um momento muito difícil pois ninguém parece acreditar que os países não podem gastar mais do que têm.
O clima de contestação vai subir porque ninguém quer saber de mais nada para além do seu próprio problema.
Esperamos que os políticos consigam gerir as expectativas e levar o país a bom porto.