domingo, 31 de outubro de 2010

Uma dúvida terrível

No dia 10 de Outubro a Moody's faz um comunicado a baixar o rating do BPN e informa numa nota enviada à imprensa releva que as ajudas de liquidez do Estado ao BPN, sob a forma de papel comercial, já ascendem a 4,6 mil milhões de euros.
Depois parece que vão ser concedidos mais 400 milhões para posteriormente vender por 180 milhões.
Se tudo isto não me disse-se respeito estaria tranquilo. Mas este montante é quase o que se tem que baixar o défice este ano e que dar um murro nos orçamentos dos Portugueses.
Assim, fico com uma terrível dúvida. Quem recebeu estes 4,6 mil milhões? E quem ainda ficou de fora e vai receber os restantes 400 milhões?
E porque é que agora, que não há qualquer risco sistémico se vai por 400 milhões para depois receber, de acordo com a previsão, 180 milhões?
Eu gostava muito que deixassem de gastar milhões, e muito menos milhares de milhões. Passem a gastar euros como todos nós.

sábado, 30 de outubro de 2010

Reabilitação urbana

Tema muito antigo mas muito mal tratado - a reabilitação urbana - volta agora a chamar à atenção por dois motivos essenciais:
1. A crise na construção civil e a ausência de uma carteira de obras adequada à capacidade instalada no sector;
2. O estado em que se encontra boa parte dos edifícios dos centros das cidades.

Este é um assunto que mostra várias fragilidades da política urbana, em primeiro lugar, e da estratégia dos nossos empresários, em segundo lugar.
Passo a explicar o meu ponto de vista.
Políticas caóticas ao nível do ordenamento do território promoveram a construção imobiliária nos arredores das cidades, sem estruturas ou serviços de apoio, mostrando um desprezo absoluto pelos núcleos urbanos.
As casas foram envelhecendo e é muito difícil fazer obras porque as exigências são absurdas. As cidades tem hoje poucos moradores no centro.
Vou dar alguns exemplos das dificuldades de quem pretende reabilitar uma casa no centro de uma cidade. Um projecto para ser aprovado tem que obedecer a princípios térmicos e acústicos, ter degraus com determinadas medidas nas escadas, garantir o acesso a pessoas com fraca mobilidade, etc.
Provavelmente até terá de ter um parecer de uma pessoas que julgam ser o garante da cultura e que vivem numa cidade construída entre 1980 e 1990 com a mesma forma que tinha até 1980. Que falta de imaginação.
São tudo boas ideias para casas novas. Mas para casas antigas significa que cada obra acaba por se transformar em por a casa abaixo (mantendo a fachada) e construir de novo após realização de vários projectos na tentativa de obter uma aprovação. Quem tem uma casa com escadas de pedra do séc XIX está impossibilitado de as usar a não ser que tenha instale um elevador com dimensões para uma cadeira de rodas. Bestial.
Quanto aos empresários, no frenesim de tanto construir de raiz perderam a habilidade de entrar nas nossas casas com urbanidade e realizar obras limpas, sem encher tudo com pó. A própria qualidade dos trabalhos é precária porque se perderam as profissões que eram capazes de reparar um corrimão de madeira ou um estuque antigo.
Uma política de reabilitação urbana passa por flexibilizar regras e definir tempos e espaços de intervenção. Doutra maneira esta será sempre uma conversa sem efeito prático.
Quanto às empresas penso que a tarefa fica facilitada. Há sempre as que se adaptam e as que não. No fim ficam as que mostraram compreender os sinais dos tempos.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

FMI

Estava a falar com um amigo que me dizia que era muito mau se o FMI viesse cá. Fiquei curioso por que razão teria tal receio e perguntei-lhe.
A resposta é curiosa e é aceite por muitos.
O FMI defende o interesse dos bancos e vai-nos apertar o cinto para que os bancos possam reaver os créditos que nos concederam.
O FMI exige e não ouve. Corta a direito nos interesses dos trabalhadores e dos pobres.
Perguntei-lhe se sabia que o problema era nós dever-mos demais. Disse-me que sim.
Perguntei-lhe se tinha alguma vez ouvido falar em alguma pressão por parte do FMI para que nos tornasse-mos nos campeões do crédito. Claro que não, foi a resposta.
Então o que se pode perguntar a viciados do crédito sobre gestão do crédito? Achas que o FMI ganhava alguma coisa a perguntar ao Governo Português alguma coisa sobre o que fazer?
Claro que o Governo sabe muito bem o que teria de fazer à muitos anos. Mas escolheu mais crédito como um viciado quer mais droga.
Portanto a solução tem de ser bruta e rápida para que seja possível nós ( e não os nossos filhos) voltar-mos a respirar.

O SEE

O Sector Empresarial do Estado é alvo de um conjunto de medidas das quais se pode tirar algumas conclusões:
1. As empresas deste sector são mal geridas e devem reduzir fortemente custos;
2. Há gestores a mais pelo que devem ser reduzidos;
3. Algumas empresas (as da lista) são dispensáveis pelo que devem ser privatizadas.

Outras conclusões se podem retirar mas fiquemos com estas que já me merecem algumas perguntas:
Se as empresas são mal geridas porque não se mudaram mais cedo os gestores? Já agora que critérios são seguidos para convidar uma personalidade para gestor de determinada empresa?
Se há gestores a mais era preciso vir um orçamento para resolver este problema? Quem representa o Estado como accionista destas empresas? O que anda fazendo? Que informações transmite? Porque não se adequou à mais tempo a gestão das empresas às necessidades?
Por fim qual é o critério para privatizar?
A mim parece-me que se devia definir qual o critério para serem publicas e todas as outras seriam privatizadas. Era mais transparente.

Aproveitamento de estruturas

Muitas vezes temos uma ideia fechada sobre as estruturas e não nos recordamos de actividades que podem rentabilizar adicionalmente as estruturas existentes.
O primeiro exemplo que dou recai sobre as escolas que estão fechadas no verão e para nada servem. Podiam ser aproveitadas como estalagens de juventude, locais para funcionamento de postos de rastreio médico, ou outras actividades como exposições em articulação com museus municipais ou bibliotecas.
A utilização destes espaços também podia servir para concertos ou outras actividades culturais que no fundo se desenvolvem com maior intensidade em período de férias.
Outro exemplo recai sobre o foro doméstico. Muitas são as pessoas que têm casas grandes, do tempo em que a família alargada era grande e que após a saída dos filhos e o falecimento dos país fica um casal a viver numa casa demasiado grande. Uma parte deste espaço podia ser transformado em ateliers ou em escritórios, ou mesmo alugado a estudantes e a turistas. Nestes casos há alguns assuntos a tratar mas nada de complicado.
Estas actividades podiam trazer um rendimento adicional e criar uma oferta descentralizada no espaço mas sempre em lugares centrais, onde há claramente vantagem para os utilizadores/clientes.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Sinais

As políticas que têm sido implementadas em Portugal e que vão agora ser aplicadas ainda com maior intensidade dá sinais estranhos para quem quer sair da pobreza.
Aos gestores e quadros das empresas, que estudaram e esforçaram-se com carreiras sem horas é apontada a arma da justiça do Robin dos Bosques. Vê como compensação do seu trabalho um ataque odioso a uma remuneração que pode ser elevada em Portugal mas que verdadeiramente não é muito elevada se comparada com outros países.
Estava a ver uma entrevista feita com malícia ao Ministro responsável por esta estranha política e pensava. O pobre do Ministro envelheceu a olhos vistos nestes anos no Governo e ganha cerca de um oitavo da radiosa jornalista. A ele todos apontam o dedo enquanto ela tem a incumbência de ser atrevida.
Os verdadeiros responsáveis competentes deste país vão acabar por emigrar ou, se já não se acharem com forças para isso vão dar a melhor formação possível aos filhos e prepará-los para ir viver para outro país.
Por cá tentar fazer o melhor que se sabe gera invejas e acaba por se ser maltratado.
Melhor é ser espertalhão e arranjar uns ganhos ilícitos que se acaba por ser convidado para festas e é verdadeiramente sexy.
Acho que deviamos começar a tratar melhor os que fazem bem o seu trabalho e conseguem nivelar por cima as organizações a que pertencem.
Isto se não queremos acabar a fazer camas para turistas pobres de países ricos.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Orçamentos de contenção

Em boa verdade todos os orçamentos públicos devem ser contidos porque o dinheiro é publico e deve ser respeitado e gasto só quando há um motivo claro para isso.
Esta não é a nossa tradição.
O orçamento para 2011, que antes de ser conhecido já devia, pelo que dizem, ter sido aprovado, não é suportado por uma verdadeira reforma do Estado. Juntar umas quantas direcções gerais ou empresas não serve para nada, nem sequer poupa coisa alguma para além do aparente salário do gestor afectado. Provavelmente os custos da descoordenação subsequente serão superiores a esta poupança fictícia mas popular.
Por um qualquer motivo o povo acha que todos são boy's e portanto quanto menos houver, melhor. Mas o povo nem sempre tem boa informação e, consequentemente, nem sempre tem razão.
Os cargos públicos cada vez são ocupados por personalidades de menor qualidade porque não há condições atractivas para quem tem alternativas melhores.
O orçamento baseia-se em dois princípios fáceis de perceber:
1. Corta nas despesas dos outros e saca-lhes o mais possível em termos de cobrança de impostos;
2. Como não há qualquer reforma do Estado, da sua parte só pode reduzir nos salários.
O que me parece é que o conceito de Estado que temos em Portugal está desfasado dos recursos que o país tem.
Não vale a pena recolher mais impostos para manter benefícios que, mais cedo ou mais tarde, serão revogados. Apenas fazemos esta agonia durar mais tempo sem reformar de facto o que está no centro da despesa.
Temos que ter menos Estado, ou seja, menos apoios e direitos vários que, estando assumidos, são perfeitamente passíveis de alteração.
Os direitos à justiça e ao bom nome, à igualdade de tratamento por parte do Estado, à democracia e outros tantos que realmente importam é que devemos ter o cuidado de não perder.
Os direitos assessórios devem entrar em profunda discussão para, num prazo curto, nos entender-mos quanto à reforma profunda e necessária que Portugal e a maioria dos países da Europa necessitam. Nós estamos mais aflitos porque temos uma economia mais frágil, mas o problema é de conceito e é bem europeu.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Trabalho

Neste momento há muitas pessoas sem trabalho, o que diga-se, é verdadeiramente preocupante.
Mas quem está atento vê com frequência ofertas de trabalho que permanecem em montras durante muito tempo. Quem está familiarizado com o mercado de trabalho também sabe que por vezes é difícil encontrar mão de obra adequada às funções em causa. Mas todos também sabemos que não é por falta de pessoas sem emprego e com condições para o desempenho das tarefas desejadas.
Estes são os problemas estudados pelos laureados com o Nobel da Economia de 2010 e parece que as suas teses deviam ser melhor compreendidas e absorvidas pelas políticas de regulação de mercados.
O que se propõe é que as políticas públicas intervenham nos mercados aumentando a informação disponível de forma a tornar o mercado mais eficiente.
Se todas as necessidades de recursos humanos fossem rapidamente satisfeitas o número de desempregados baixava certamente, o que, indiscutívelmente era bom.
O mesmo se aplica à venda de casas, caso aliás bastante estudado por estes economistas. Enquanto há pessoas que não encontram a sua casa, há imensas casas que não encontram comprador. Não é de crer que nenhuma das casas que está à venda não sirva aos potenciais compradores.
Uma das formas de reduzir os problemas da economia é aumentar a eficiência dos mercados. Este é um caminho que tem sido pouco trabalhado e que não exige grandes orçamentos.