quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Crédito

Os bancos têm uma função muito importante na economia. Fazem intermediação financeira e accionam mecanismos de multiplicação da massa monetária.
A intermediação financeira consiste em fazer a ponte entre quem tem recursos que, durante certo período, não necessita e quem necessita e não tem. Quem necessita paga um prémio pelo acesso ao crédito e quem cede recursos tem uma remuneração.
Quando há dúvidas, como agora houve, os bancos, que são entidades estranhas, deixam de confiar em seja quem for e deixam de emprestar dinheiro. Sem emprestar dinheiro, o mecanismo de multiplicação de massa monetária deixa de funcionar e o dinheiro disponível para a economia passa a ser muito menos. Se há menos dinheiro é natural que este fique mais caro. Com tudo isso passa-se de uma dificuldade financeira a uma dificuldade económica.
Quando se empresta dinheiro a uma empresa ela paga a outra que deposita e volta a ser emprestado e por aí fora. Como a massa monetária é a quantidade de moeda multiplicada pelo número de vezes que circula é tanto maior quanto mais circula. Se não há empréstimos a massa monetária retrai-se rapidamente.
Neste momento estamos com elevadas restrições de crédito. As empresas começam a ter dificuldade em desenvolver projectos que necessitem financiamento. Estando estas empresas com estruturas de custos fixos dimensionadas para certo volume de negócios a não concretização de novos negócios só tem uma solução...o despedimento de pessoal.
...Desemprego...maior factura social...menos impostos...menor actividade económica...
Rapidamente temos todos que quebrar este ciclo. Temos de confiar nos bancos, embora eles obviamente não sejam de confiança. Temos de investir e apoiar os projectos que são necessários e deixar os acessórios. Convém perceber que os essenciais são por exemplo os que contribuem para a melhoria da performance ambiental, a formação e desenvolvimento pessoal, e, por último mas não menos importante a competitividade das empresas.
Quanto mais protegidos estivermos em matéria de ambiente, de formação e de contas públicas melhor nos saímos.
Baixar os impostos é a maior tolice que se pode fazer porque neste momento não está em causa termos empresas que têm lucros. O problema é saber se as que deixaram de ter vão passar pela tormenta e manter a actividade ou vão mesmo acabar. Acontece que estas já não pagam impostos.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Justiça

Temos sido bombardeados com o caso Cipriano pelos OCS.
Os casos de policia não me chamam muito à atenção até que vejo uma senhora com sinais claros de ter sido agredida.
Mais tarde vim saber mais pormenores e em resumo parece-me que aconteceu o seguinte:
Desapareceu uma menina que foi dada como morta embora o seu corpo nunca tenha sido encontrado.
Prenderam a mãe que seria presumivelmente autora de homicídio.
A policia não fez nenhuma investigação que tenha obtido provas e, em vez disso, deu uma sova na senhora Cipriano até ela dizer o que lhe foi pedido, dando-se por culpada de um homicídio que não há prova que tenha acontecido, uma vez que não há corpo.
O advogado de defesa não permitiu que a ré fosse ouvida o que é um direito que lhe assiste.
O Juiz não tendo qualquer prova e não podendo ouvir a ré confirmar o que alegadamente tinha dito na esquadra chamou os polícias que a tinham agredido e interrogado para depor.
Os ditos policias disseram o que ela tinha dito no da em que tinha sido agredida e o juiz considerou que estava provado que ela tinha reconhecido ser homicida e que tinha havido a morte da pequena.
Claro que não se apurou onde estava o corpo.
Se isto é justiça, macacos me mordam. Mas tira-se uma lição. Ninguém estranha que a policia não investigue ou não o saiba fazer. Considera-se normal não haver provas, nem ao menos que houve o crime em causa.
Julga-se uma ré por um crime que não está provado com base em alegadas declarações feitas depois de agressões. Normal. O Juiz deve ser louco se pensa que o povo acha isto normal.
Agora espero que aconteçam várias coisas. Em primeiro lugar que os policias sejam despedidos e julgados convenientemente. Em segundo lugar que o Juiz deixe de o ser e seja punido pela sua hierarquia.
Já agora que a menina apareça viva e de boa saúde.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Medidas para a crise

Tem sido apresentadas medidas de combate à crise por parte de muitos políticos, especialistas, comentadores etc.
Todos as medidas no sentido de aumentar a liquidez do mercado financeiro são indiscutivelmente necessárias, mas não suficientes.
Este crise não é só fruto do deslumbramento dos operadores financeiros pelo jogo. Alguns operadores financeiros acharam que apostar em jogos de sorte seria um investimento. Claro que investir tem que ter como contrapartida operações no mercado de bens e serviços caso contrário só dá certo enquanto as pessoas acreditarem e, quando deixarem de acreditar, todos os que estão em jogo perdem o seu dinheiro porque deixam de aparecer novos interessados em jogar.
Parece-me que a baixa de impostos é uma falácia. Diminui a capacidade de intervenção do Estado e só ajuda quem tem.
As empresas que estão em dificuldades não têm bons resultados e, assim, o efeito de uma diminuição de impostos não é decisivo na manutenção ou encerramento do negócio.
Mais importante seria destinar a mesma verba que a diminuição de receitas implicaria e aplicar numa diminuição do custo do trabalho das PME. Dizendo mais claro, baixar temporariamente a taxa de comparticipação da entidade patronal para a segurança social e transferir do orçamento geral do estado para a segurança social a verba correspondente.
Esta operação era o mesmo em termos orçamentais mas incidiria sobre o custo do trabalho melhorando mensalmente a situação financeira da empresa e retirando pressão sobre o trabalho nas medidas de diminuição de custos. Espero que uma medida destas ajude os empresários a poupar sem criar desemprego.
Porque criar desemprego significa criar menos riqueza e menos procura interna que gera negócios e é um multiplicador económico importante.
As medidas restantes devem ser no sentido de promover o investimento em substituição de importações, por exemplo de imensos produtos agrícolas.
Um programa nacional de PME agrícola inovadora seria uma ideia importante. Talvez os apoios à agricultura criassem mais emprego e rendimento nas zonas rurais, dinamizando e diversificando as pequenas economias.
A aposta na formação em profissional e tecnológica associada ao ensino do inglês e de mais uma língua é também essencial.
Os governos tendem a aumentar a despesas pública nestas alturas para aumentar a procura interna. Aproveitem para a aplicar em projectos ligados à água para consumo, águas residuais e resíduos que é uma área que tem em Portugal um certo atraso pelo que é uma oportunidade de acertar o passo.
Mas não podemos deixar de revolucionar o estado que gasta muito e é pouco produtivo.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

A economia volta aos seus mecanismos

Estabelecido um seguro de garantia ao mercado interbancário, lentamente as empresas voltarão a ter crédito e a economia voltará aos seus mecanismos normais.
As expectativas actuais vão no sentido de ser uma boa altura para comprar títulos que se sobre desvalorizaram e que têm potencial para valorizar. As bolsas terão uma valorização.
Por outro lado, com a animação da economia o dólar será desvalorizado face ao euro e o petróleo começará a subir pois as expectativas de uma crise económica estão mais atenuadas e a pressão sobre os preços será lentamente retomada.
A incerteza é ainda grande. Ainda há nas empresas muitos decisores que devem ser afastados e muitos mecanismos de regulação que devem ser revolucionados.
As instituições internacionais também devem ser redefinidas porque já há algum tempo que se via a dificuldade que o quadro internacional mudou tanto que as instituições do pós guerra estão caducas, são caras e têm pouca valia.
Espero que os principais decisores compreendam que o mundo mudou e que, ou esta mudança se traduz numa alteração profunda das prioridades e numa construção de um novo quadro regulatório, legislativo e institucional, ou vai haver uma grande diferença entre quem mudar e quem tentar remediar os problemas e fazer discursos muito optimistas.
Há políticos que julgam que o povo não percebe o que se passa mas muitas vezes os políticos é que não vêm o que o povo já compreendeu, embora muitas vezes não consiga articular um discurso limpo que o demonstre.
Mas o povo sente cada euro a mais ou a menos porque tem rendimentos muito limitados e é hipersensível a cada alteração da sua vida.
Deste susto sairão empresas vencedoras e vencidas, políticos derrotados e vencedores, gestores credibilizados e gestores no desemprego.
Tudo será diferente.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Empréstimos sem risco

A quebra de confiança dos banqueiros nos seus colegas tinha paralisado o sistema interbancário. Os governos estabeleceram um seguro de crédito para estas operações, pago por nós, para anular este risco (no fundo o risco de um banco emprestar a outro uma soma grande e este falir um ou dois dias depois) e reestabelecer a liquidez necessária ao sistema económico.
Agora esperamos que as taxas euribor desçam a pique uma vez que, sem risco, não faz sentido ter taxas muito diferentes da taxa de cedência de liquidez dos bancos centrais.
Vai ser um novamente um momento que requer vigilância dos reguladores porque nós pagar-mos o custo do risco nos impostos e não ter-mos pelo menos o benefício das taxas baixas é algo que me preocupa.
Seria agora a altura de discutir que penalizações terão os gestores das instituições que geraram este risco exagerado. Que tal serem inibidos do exercício de actividades de gestão ou consultadoria na área financeira? Ou será que no fim ainda vão voltar a ser premiados?

domingo, 12 de outubro de 2008

Confiança

Interessante que se fala tanto em falta de confiança da economia.
Parece-me que quem tem falta de confiança são os gestores bancários uns nos outros e por isso limitaram muito a intervenção do mercado interbancário. Eles lá sabem por quê...
Se calhar seria necessário introduzir uma nova classe de gestores sem tanta formação em habilidades para criar produtos financeiros sem fundamentos reais.
Custa-me a compreender como são encarados produtos que têm valorização dependente de um índice e não de acções reais.
Com todas essas invenções estamos a misturar as apostas típicas do negócio do jogo com investimentos financeiros e sem avisar as pessoas.
Pior é quando os próprios fundos de pensões começam a fazer apostas.
Como as apostas não são lógicas acontece depois que um banco tenha no dia antes de falir um rating atribuído muito elevado. Acho que todas as empresas de rating e de auditoria a contas deviam ser fortemente reguladas pois não são confiáveis como se vê.