segunda-feira, 18 de abril de 2011

O interesse Alemão

Ao fazer um discurso de grande exigência em troca da assistência financeira aos países europeus com problemas orçamentais a Alemanha não está a comportar-se como um país amigo mas como um vendedor que vende ao melhor preço possível.
A negociação de contrapartidas, como por exemplo exigir a Portugal a aquisição de equipamento alemão de elevado valor, como foi o caso dos submarinos e é agora o TGV, não beneficia Portugal nem seria necessário se realmente se tentasse fazer uma Europa com relevância mundial no futuro.
Políticos sem carisma e sem visão fazem negociatas com eventuais ganhos no curto prazo mas sem ganhos estruturais.
A Alemanha pode não ajudar os países em dificuldades, mas se estes entrarem em não cumprimento do pagamento dos seus financiamentos, então a Alemanha ficaria com um problema bastante maior.
A banca alemã tem uma exposição aos três países em dificuldades (Grécia, Irlanda e Portugal) de 230 mil milhões de euros e a ajuda da Alemanha a estes mesmos países é de 52 mil milhões. Ou seja, é muito mais barato para a Alemanha ajudar do que não ajudar.
A assistência consubstancia-se num empréstimo feito com valores de juro muito elevados, o que traz um retorno substancialmente vantajoso. É portanto um bom negócio.
Mas os países nórdicos e conservadores são muito influenciados por uma cultura luterana que não confia nos países do sul, pouco rigorosos no discurso, o que faz com que a desconfiança seja muito grande e difícil de explicar ao povo, mesmo quando se pretende ajudar.
Portugal, que conhecemos bem, é o país das 100 medidas. Mas depois ninguém presta contas do que se fez com estas medidas e isso é uma prática que não é aceite num país organizado e com um povo exigente como é o caso do povo alemão.
Para não pagarmos o que não queremos e para não nos fazerem uma perseguição destas temos que aprender a ser transparentes. Se é apresentada uma medida, depois tem que ser apresentada informação sobre a sua execução e os respectivos resultados.
Depois de tudo isso vamos concluir que os técnicos do FMI, que não vão a votos, acabarão por ter uma proposta de assistência mais adequada e aceitável pelos portugueses. É pena quando a política é uma menos valia relativamente às propostas técnicas, que têm menos graus de liberdade.
Assim a Europa está em causa a prazo. O clima não é de unidade mas de competição e assim não faz sentido termos políticas comuns.

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