quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Multiplicador da despesa pública

O multiplicador da despesa pública é o nome que os economistas dão ao facto de a despesa pública poder ter a capacidade de gerar mais PIB do que a despesa inicial.
Dizendo assim parece uma boa ideia.
Só que nem sempre é assim.
A capacidade de uma economia responder a todas as solicitações intersectoriais é determinante para calcular a dimensão do multiplicador. Numa economia em que as solicitações sejam respondidas essencialmente por importações o multiplicador será menor e o efeito no PIB será inferior à despesa pública.
Assim, quando se decide fazer despesa pública para ajudar a economia é importante conhecer os multiplicadores do produto para escolher de entre as várias hipóteses os investimentos com maior impacto.
Nos Açores não existem matrizes intersectoriais (que permitem calcular os multiplicadores do produto) pelo que nada se sabe sobre o assunto. O SREA fez no inicio dos anos 90 uma matriz para os Açores mas é absolutamente inútil hoje pois a economia transformou-se muito.
Era um bom trabalho a desenvolver pelo SREA a produção de matrizes intersectoriais actualizadas.
A realidade é que sem este conhecimento ou os investimentos são infra-estruturas que possibilitam um crescimento da competitividade da economia, ou promovem o desenvolvimento tecnológico ou então investe-se sem saber se é por dinheiro à rua ou se está a provocar a dinamização da economia.
Quando Keynes disse sobre a crise de 1929 que era necessário fazer despesa pública para debelar a crise, nem que fosse abrir buracos para depois fecha-los referia-se a um tempo em que tal despesa não induzia importações nem atraía empresas estrangeiras.
O que diria Keynes hoje? Seria certamente mais cauteloso.

1 comentário:

Pedro Ferreira disse...

Uma correcção a este post.

Existe uma matriz com 16 ramos estimada pelo ISEG para 1998.

Depois desta, existe uma matriz input-output com 45 ramos para 2001 que, tanto quanto saiba, é a mais recente.

O SREA construiu uma matriz de usos (à qual chamou "Quadro de Empregos Alargado") com o ano de referência 2001 e eu, na minha tese de mestrado e com base nessa matriz de usos, estimei a matriz input-output para os Açores. Na mesma tese, desagreguei a matriz em três: uma para São Miguel, uma para a Terceira e a outra para as restantes ilhas.

O objectivo desta desagregação foi comparar os multiplicadores a nível de ilha sendo uma das conclusões desta comparação a confirmnação de algo que empiricamente suspeitávamos: não há uma economia para os Açores; existe sim várias economias de ilhas(*).

Esta tese tem as limitações conhecidas e usuais nestas áreas: estimar uma matriz regional (e mais ainda, uma matriz "sub-regional") é um exercício complexo e as conclusões deverão ser usadas com algum cuidado.

Quanto à actualização, cheguei a propôr, enquanto trabalhava no SREA, actualizações regulares dessas matrizes. Entretanto, comecei a trabalhar no Eurostat, ficando a ideia adiada. Mas mantenho esta ideia na calha para quando voltar para a Região.

Para terminar, queria dizer apenas que há dois mundos distintos e, infelizmente, (quase totalmente) indepentes: o mundo que produz ferramentas para apoiar a decisão política e o mundo que decide quais as políticas a aplicar.

Não interessa ter as melhores ferramentas à disposição se não as usamos. :)

(*) Esta afirmação é um abuso de linguagem, claro está. Mas a ideia é que um multiplicador extraído de uma matriz para os Açores revela-se desajustado e atrevo-me a dizer, inútil, se quisermos focar a nossa atenção numa ilha em específico (inclusive, São Miguel, responsável por mais de 50% do PIB regional).