Tema muito antigo mas muito mal tratado - a reabilitação urbana - volta agora a chamar à atenção por dois motivos essenciais:
1. A crise na construção civil e a ausência de uma carteira de obras adequada à capacidade instalada no sector;
2. O estado em que se encontra boa parte dos edifícios dos centros das cidades.
Este é um assunto que mostra várias fragilidades da política urbana, em primeiro lugar, e da estratégia dos nossos empresários, em segundo lugar.
Passo a explicar o meu ponto de vista.
Políticas caóticas ao nível do ordenamento do território promoveram a construção imobiliária nos arredores das cidades, sem estruturas ou serviços de apoio, mostrando um desprezo absoluto pelos núcleos urbanos.
As casas foram envelhecendo e é muito difícil fazer obras porque as exigências são absurdas. As cidades tem hoje poucos moradores no centro.
Vou dar alguns exemplos das dificuldades de quem pretende reabilitar uma casa no centro de uma cidade. Um projecto para ser aprovado tem que obedecer a princípios térmicos e acústicos, ter degraus com determinadas medidas nas escadas, garantir o acesso a pessoas com fraca mobilidade, etc.
Provavelmente até terá de ter um parecer de uma pessoas que julgam ser o garante da cultura e que vivem numa cidade construída entre 1980 e 1990 com a mesma forma que tinha até 1980. Que falta de imaginação.
São tudo boas ideias para casas novas. Mas para casas antigas significa que cada obra acaba por se transformar em por a casa abaixo (mantendo a fachada) e construir de novo após realização de vários projectos na tentativa de obter uma aprovação. Quem tem uma casa com escadas de pedra do séc XIX está impossibilitado de as usar a não ser que tenha instale um elevador com dimensões para uma cadeira de rodas. Bestial.
Quanto aos empresários, no frenesim de tanto construir de raiz perderam a habilidade de entrar nas nossas casas com urbanidade e realizar obras limpas, sem encher tudo com pó. A própria qualidade dos trabalhos é precária porque se perderam as profissões que eram capazes de reparar um corrimão de madeira ou um estuque antigo.
Uma política de reabilitação urbana passa por flexibilizar regras e definir tempos e espaços de intervenção. Doutra maneira esta será sempre uma conversa sem efeito prático.
Quanto às empresas penso que a tarefa fica facilitada. Há sempre as que se adaptam e as que não. No fim ficam as que mostraram compreender os sinais dos tempos.
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