sexta-feira, 28 de maio de 2010

O Mundo Mudou

Tem sido muito comentada a mudança do mundo. Para uns, acabou de mudar nas últimas semanas, para outros, nada mudou e são tudo desculpas para justificar percalços.
Mas há quem pense que este século mudou muito a economia, uma mudança sistemática ao longo dos anos, infelizmente não foi para melhor.
Vejamos os argumentos dos que, como eu, pensam que o mundo tem vindo a mudar.
O comercio internacional e as finanças globalizaram-se sem preconceitos. Os países que no século eram comunistas e fechados são hoje os maiores operadores especulativos com fundos soberanos.
O envelope financeiro mundial, incluindo activos reais tradicionais e instrumentos financeiros novos é de 15 vezes o PIB mundial.
Entre 1980 e 2007 os activos tradicionais (acções, depósitos e obrigações) aumentaram 9 vezes, passando de 1,2 para 4,4 vezes o PIB mundial.
O mercado de derivados over-the- couter aumentou 7,5 vezes nos últimos 10 anos, ou seja, passou de 2,4 para 11 vezes o PIB mundial.
Enquanto o capital financeiro real valia, em 2007, 241 biliões de dólares o capital virtual valia 683 biliões de dólares.
Estes números podem ser vistos com mais pormenor na revista Exame de Maio de 2010.
Quando a economia muda desta forma, os modelos de serviam para tomada de decisão ficam obsoletos.
Uma nova análise económica tem que surgir, incorporando meios analíticos e um corpo teórico adequado.
O que se tem feito é atirar as culpas para o adversário e defender as soluções que dão mais benefício ao respectivo lobby.
O problema é que este caminho não conduz a uma solução.
Muita economia real está hoje na posse de fundos soberanos de países com um interesse estratégico diverso doo nosso.
O crescimento da economia financeira, que aposta na eterna ambição do homem, está a pôr em risco o nosso futuro.
Não podemos mudar o mundo mas podemos reduzir a nossa exposição a esses riscos, antes que percamos a nossa independência nacional.
Não é o que temos feito.
A nossa dívida externa era em 2000 de 38% do PIB e em 2008 tinha crescido para 97% do PIB.
Com este aumento a nossa fragilidade a qualquer perturbação tornou-se evidente.
Quem opera na espuma da economia, em negócios como as vendas over the couter (sem cobertura)sabe que os mercados fragilizados podem permitir operações com grandes lucros.
Vender hoje activos que não se possuem para entrega numa data futura, aumentar com isto a liquidez do mercado e pressionar o preço em baixa, comprar mais barato no dia antes da data acordada para a entrega do activo e ganhar a diferença é um negócio interessante mas que tem um efeito demolidor sobre as bolsas e sobre o valor das moedas. Isto sim é economia de casino e devia ser proibida pois não contribui para o bem estar das populações.
O truque para evitar isto tudo é não dever.
Claro que podíamos ser nós a fazer a reforma constitucional e posteriormente na educação e na saúde onde são alocados grande parte dos recursos nacionais.
Mas pelos vistos vamos ter de fazê-la aos empurrões sem qualquer delicadeza porque somos incapazes de mudar enquanto ainda temos alguma riqueza.

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